Tragédia com a cadela Belinha não é caso isolado e acende alerta sobre a falta de preparo e estrutura em estabelecimentos que lidam com a vida de animais em todo o país
A morte da pequena Belinha, uma cadela da raça Lulu da Pomerânia de apenas sete meses, dentro de um pet shop em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, acendeu um novo alerta sobre os cuidados, a estrutura e o preparo dos profissionais que atuam em estabelecimentos voltados ao atendimento de animais de estimação.
Segundo relato divulgado pelo portal G1, a tutora do animal, Jéssica Ruperti, deixou a cadelinha no local para um banho na sexta-feira, 28 de março. Ela avisou previamente à equipe que Belinha era agitada e que já havia tentado, sem sucesso, dar banho nela em casa. Cerca de duas horas após o início do atendimento, a tutora foi informada que o procedimento não havia sido concluído porque o animal estava muito agitado. Logo depois, a comunicação com o pet shop teria sido interrompida.
O desfecho foi trágico. A responsável pelo estabelecimento foi até a casa de Jéssica com Belinha já sem vida, afirmando que a cadelinha teve uma parada cardíaca durante o banho, foi levada a uma clínica veterinária e, mesmo após tentativas de reanimação, não resistiu.
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“A minha cadelinha estava dentro do carro dela, no banco da frente, sem nada coberto, totalmente exposta. E eu sem reação nenhuma, porque eu nunca passei por isso”, contou a tutora ao G1. “Ela se ajoelhou na minha frente, disse que nunca tinha acontecido, me pediu desculpa, me ofereceu outros cachorros”, acrescentou, emocionada.
Jéssica afirma que, num primeiro momento, não pensou em investigar o caso por acreditar que teria sido uma fatalidade. No entanto, diante da dor, da forma como tudo aconteceu e da forma como o corpo do animal foi entregue, decidiu registrar um boletim de ocorrência por maus-tratos. A 2ª Delegacia de Polícia de Viamão investiga o caso.
Posicionamento da Casa do Pet
Em nota oficial, também divulgada pelo G1, a Casa do Pet lamentou profundamente a morte da cadela e afirmou que prestou todo o socorro necessário.
“Agimos o mais rápido possível, com toda a dedicação e profissionalismo que sempre nos guiaram. Acionamos imediatamente um veterinário, que fez tudo o que estava ao seu alcance. Infelizmente, apesar de todos os esforços, a Belinha não resistiu, e essa perda nos atingiu profundamente”, diz o comunicado.
O texto ainda afirma que a tutora relatou à responsável pelo estabelecimento que Belinha era agitada e já havia sido recusada por outras clínicas. Uma necropsia foi realizada e teria confirmado que a causa da morte foi uma parada cardíaca.
“Pessoalmente, confesso que não tenho mais forças, nem emocionais nem físicas, para seguir adiante. Por isso, com muita dor no coração, tomei a difícil decisão de fechar as portas da Casa do Pet”, conclui a nota.
Casos se repetem em diferentes estados
A tragédia de Belinha não é um caso isolado. Em fevereiro deste ano, em Contagem (MG), uma cadela da raça dachshund chamada Rubi morreu após, segundo a família, ter sido agredida por um funcionário de um pet shop durante um atendimento. O caso também foi registrado como maus-tratos e segue em investigação pela Polícia Civil.
Já em dezembro de 2024, em Brasília, um cão de oito meses morreu durante uma tosa em um pet shop. As imagens das câmeras de segurança flagraram o momento do atendimento e mostraram o animal sendo manipulado por funcionários antes de passar mal. A tutora só soube da morte ao retornar para buscá-lo. O caso ganhou repercussão nacional.
Alerta sobre preparo, estrutura e fiscalização
O crescimento do setor pet no Brasil vem acompanhado de uma série de desafios. Entre eles, está a ausência de regulamentações mais rigorosas para estabelecimentos que prestam serviços como banho, tosa, creche e hospedagem para animais. Muitos locais funcionam sem a presença de veterinários, com funcionários não capacitados e com estruturas inadequadas para garantir a segurança e o bem-estar dos bichinhos.
Especialistas alertam que, mesmo que não haja dolo ou intenção de causar mal ao animal, a falta de preparo técnico pode resultar em acidentes e até mortes. Animais agitados, por exemplo, precisam ser manejados com cuidado, por pessoas treinadas para lidar com situações de estresse.
Além disso, a estrutura física dos pet shops também precisa ser avaliada. Ambientes abafados, equipamentos ultrapassados, ausência de câmeras de monitoramento e protocolos de emergência podem ser fatores decisivos em casos como o de Belinha.
Tutores atentos e mudanças urgentes
Para tutores, fica o alerta: antes de confiar um pet a um estabelecimento, é preciso pesquisar, visitar o local, conversar com os profissionais, entender a estrutura e se informar sobre os protocolos adotados em situações de emergência. A vida dos animais precisa ser tratada com a mesma seriedade com que tratamos nossos entes queridos.
É preciso também que o poder público avance na fiscalização e na criação de leis que tornem obrigatória a capacitação dos profissionais, a presença de veterinários em tempo integral e a instalação de sistemas de monitoramento. A vida dos animais não pode mais depender apenas da boa vontade dos estabelecimentos.
Cada vida importa
Casos como o de Belinha, Rubi e tantos outros que não chegaram à imprensa devem servir como ponto de partida para uma mudança real. Quando um pet entra em um pet shop, espera-se cuidado, acolhimento e segurança — não sofrimento ou risco de morte.
A sociedade brasileira precisa reconhecer que os animais são seres sensíveis, que merecem respeito, empatia e, acima de tudo, proteção. Enquanto não houver responsabilização, fiscalização e compromisso com a vida dos pets, novas tragédias continuarão a acontecer. E nenhuma dor como a que vive hoje a família de Belinha deveria ser normalizada.