Castração precoce pode aumentar riscos ortopédicos em cães de grande porte, mas é indicada para gatos
Por muito tempo, a recomendação era uma só: castrar cães e gatos o quanto antes, de preferência antes do primeiro cio. A ideia era simples e eficaz — prevenir doenças, evitar crias indesejadas e promover mais qualidade de vida. Mas os tempos mudaram, e a medicina veterinária também. Hoje, o que antes era tratado como verdade absoluta passou a ser analisado com mais cuidado, levando em conta as particularidades de cada pet.
Estudos recentes mostram que os efeitos da castração variam bastante conforme a raça, o porte, o sexo e até o estilo de vida do animal. Em cães de grande porte, por exemplo, a castração precoce pode aumentar até quatro vezes o risco de problemas ortopédicos, como displasia e lesões de ligamentos. Já em gatos, os benefícios da castração precoce, especialmente no controle populacional e na prevenção de comportamentos indesejados, continuam superando os riscos na maioria dos casos.
Cada pet é único: a era dos protocolos personalizados
“O que vale para um Golden Retriever não vale, necessariamente, para um Shih-tzu, e muito menos para um gato”, explica o médico-veterinário Eros Luiz de Sousa, diretor do hospital MeBi – Médicos de Bichos, em Curitiba. “Estamos vivendo um momento em que a medicina veterinária se baseia cada vez mais em evidências, dados científicos e abordagens individualizadas. O objetivo é promover saúde com responsabilidade, respeitando as características e necessidades de cada animal”, explica Eros.
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De acordo com uma pesquisa publicada em 2024 pela Universidade da Califórnia (Davis), a castração antes do primeiro ano de vida aumentou significativamente os riscos de distúrbios ortopédicos e de alguns tipos de câncer em raças como Golden Retrievers e Labradores. Fêmeas castradas muito cedo, por exemplo, apresentaram maior chance de desenvolver um câncer vascular agressivo.
Outro estudo, também de 2024, reforçou que castrações precoces podem estar relacionadas a incontinência urinária e alterações articulares em cães, dependendo da idade e da raça. Tudo isso indica que a decisão sobre o melhor momento para castrar deve ser feita com orientação veterinária personalizada.
Castrar ainda é importante, mas com critério
Apesar das novas descobertas, a castração continua sendo uma ferramenta essencial tanto para a saúde dos pets quanto para o controle populacional. O que mudou foi a forma como ela deve ser aplicada: com mais critério, consciência e diálogo entre tutor e veterinário.
“No caso dos gatos, por exemplo, a castração precoce ainda é bastante indicada. Ela ajuda a evitar ninhadas indesejadas e comportamentos como marcação com urina. Mas mesmo entre os felinos, é sempre importante avaliar o caso individualmente”, afirma o especialista.
Informação é a chave para decisões conscientes
Para Eros, o mais importante hoje é que tutores estejam bem-informados e conversem com profissionais atualizados, que saibam aliar conhecimento técnico com empatia e respeito pelas particularidades de cada pet.
“A decisão não é mais apenas castrar ou não, mas sim quando, por que e como fazer isso da melhor maneira. Informação não falta. O que falta, muitas vezes, é filtrar o que realmente importa e tomar decisões com base na ciência, não em modismos ou tradições desatualizadas”, conclui.
Seja cão ou gato, filhote ou adulto, macho ou fêmea, a melhor escolha para o seu pet começa com uma boa conversa com o veterinário. Afinal, cada animal é único e merece um cuidado sob medida.