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Uma reflexão sobre o caso do golden retriever Joca e o transporte de pets em voos domésticos e internacionais

Christiano Yamasaki* e Paloma Pegorer**

 

 

Christiano YamasakiComo médicos veterinários e transportadores de pets em nível nacional e internacional, recebemos esses dias a triste notícia de um incidente ocorrido durante o transporte do Joca. Por descuido, o golden retriever acabou sendo extraviado de seu destino original (Guarulhos/SP-Sinop/MT). Foi enviado por engano a Fortaleza (CE), retornou a Guarulhos horas depois e chegou morto ao seu destino. A viagem que deveria levar 2 horas e 30 minutos acabou durando aproximadamente 8 horas. E aqui prestamos nossa solidariedade ao proprietário do Joca.

Em um cenário em que animais de estimação são cada vez mais presentes em nossas vidas, casos como o do Joca causam muita comoção. E desta vez, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) se viu obrigada a tomar providências em relação à segurança no transporte aéreo de pets, abrindo no dia 2 de maio uma audiência pública com a presença de um expressivo número de inscritos. Participaram empresas transportadoras de pets, entidades cinófilas, protetores, médicos veterinários, especialistas em aviação, empresas de cargo, entre outros. No entanto, infelizmente, não houve representantes das grandes empresas brasileiras de aviação.

Na audiência que durou mais de 5 horas, cada participante presencial e virtual teve 5 minutos para expor colocações, sugestões, reclamações, casos, e claro, a forma como os pets são conduzidos e transportados pelas companhias aéreas. Estivemos presentes de forma virtual e pudemos apresentar algumas contribuições.

Devemos lembrar que cada companhia aérea possui regras próprias para o transporte de animais e todas seguem um padrão muito semelhante aos padrões internacionais (IATA), podendo inclusive suspender o serviço oferecido de forma definitiva, prejudicando expressivas margens de lucro e dificultando ou inviabilizando o transporte de pets acompanhados ou desacompanhados (carga).

No final das contas, os principais prejudicados são o pet e o usuário. O tutor acaba por optar pelo transporte rodoviário em viagens nacionais, o que também requer regras e condutas de saúde e segurança. Em algumas situações, o proprietário desiste do transporte e, infelizmente, deixa seu pet para trás.

Paloma PegorerDurante a audiência, a maior solicitação dos participantes foi a inclusão de pets de maior tamanho com seus donos na cabine, já que os de menor porte, acomodados em bolsas específicas de transporte pet, são permitidos em algumas companhias aéreas. Em nossa opinião, e acreditamos que na opinião de muitos, este seria o melhor dos mundos para todos. Porém, existe uma série de fatores, principalmente no quesito segurança de voo, que impediriam este tipo de serviço. Devemos estar cientes de que a segurança de nossos amados pets não pode estar acima da segurança do voo. Regras devem ser aplicadas de forma justa e racional, priorizando normas de segurança de transporte aéreo.

Nossos pets merecem todo conforto e segurança, seja viajando em cabine ou em porão, acompanhados ou não.

O caso do Joca, é evidente, provém de falha humana, seja da companhia aérea ou de equipes terceirizadas que prestam serviços diretamente aos aeroportos. O caso está sendo apurado.

Este foi um dos incidentes envolvendo pets com maior repercussão na mídia, mas outros casos já ocorreram no Brasil, e outros semelhantes ao redor do mundo.

Não podemos deixar de lembrar que a fatalidade ocorrida com o Joca não é comum, considerando que o número de animais que viajam diariamente via aérea é imenso e todos costumam chegar seguros a seus destinos, conforme a compra do serviço.

O que podemos fazer para otimizar a segurança de nossos pets durante o voo? Como as companhias aéreas e órgãos responsáveis devem agir em um cenário onde os animais de estimação estão cada vez mais presentes em nossas vidas, inclusive em nossas viagens?

Medidas de padronização em aeroportos nacionais devem ser tomadas de imediato para que todos os aeroportos nacionais saibam como lidar com todo processo envolvido, como diminuição, ao máximo, do tempo de antecedência do voo para apresentação do pet no check-in, treinamento de equipe das companhias aéreas e terceiros, manutenção de bases veterinárias ao menos nos aeroportos grandes onde são realizadas muitas conexões para despacho, disposição de pronto atendimento em casos como o do Joca, ambiente climatizado e com time específico e qualificado para acomodação de pets e outros animais antes do voo, durante conexões e na chegada ao destino.

 

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Providências como estas não exigem maiores investimentos e podem ser colocadas em prática quase que imediatamente.

Devemos lutar pela segurança de nossos pets, mas não podemos esquecer que as medidas propostas devem ser viáveis para que a companhia aérea possa realmente colocá-las em prática, e não simplesmente desistir de prestar o tipo de serviço.

 

*Christiano Yamasaki é médico veterinário formado pela Universidade Federal de Alfenas. Clínico e cirurgião geral de pequenos animais, trabalha também em reprodução assistida de cães. Cinófilo, é criador de cães e gatos. Atua como agente de transporte nacional e internacional de pets.
**Paloma Pegorer é médica veterinária pela FMU e bacharel em comércio internacional pela Universidade de Mons na Bélgica. Pós-graduanda em gestão do mercado pet, juíza internacional de raças caninas pela CBKC/FCI, criadora de cães há mais de 20 anos, uma das idealizadoras do projeto Sniffers de treinamento de cães de assistência e sócia proprietária da Pets on The Go, empresa especializada em transporte internacional de pets.

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