Um olhar sobre a inflação no mundo pet

Por Eli Borochovicius*

 

A alimentação dos nossos pets, cada vez mais sofisticada e essencial, está sendo diretamente impactada por movimentos econômicos que vão além das prateleiras dos pet shops. Para entender o que está acontecendo com os preços dos alimentos para animais de estimação — e por que esse mercado merece nossa atenção — é preciso observar o cenário macroeconômico com lupa.

No Brasil, a alta dos preços dos alimentos tem raízes na valorização cambial. Quando o real se enfraquece frente ao dólar, importar fica mais caro e exportar mais vantajoso. Resultado: produtos deixam de abastecer o mercado interno, pressionando a oferta e, consequentemente, elevando os preços. A isso se somam fenômenos climáticos extremos — chuvas intensas e temperaturas fora do padrão — que reduzem a produtividade agrícola e aumentam os custos de produção.

Esses efeitos já são visíveis na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), divulgada pelo DIEESE. Entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, o levantamento apontou alta nos preços em quatro capitais, com destaque para Fortaleza (13,22%) e Vitória (1,87%). Já Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte apresentaram retrações. A média nacional registrou elevação de 4,51% — abaixo do IPCA (5,06%) e do índice de inflação alimentar domiciliar (7,1%), de acordo com o IBGE.

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Mas e o setor pet? Apesar da escassez de estudos aprofundados sobre o impacto da inflação nesse mercado, os números já chamam atenção. De acordo com dados da ABINPET e do Instituto Pet Brasil, em 2023 o setor de alimentação para animais de estimação movimentou mais de R$ 40 bilhões. Em 2024, esse faturamento saltou para impressionantes R$ 77 bilhões — crescimento que merece análise detalhada.

As rações e petiscos são compostos, em grande parte, por proteínas animais (como frango, cordeiro, salmão e atum), cereais (milho, trigo, soja) e leguminosas (grão-de-bico, lentilha, ervilha). A evolução dos preços desses insumos ajuda a decifrar o que está por trás do aumento nas prateleiras. O IBGE mostra, por exemplo, que o salmão subiu 6,01%, e o frango em pedaços, 10,95%. Já o CEPEA/ESALQ registra elevações ainda mais expressivas entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025: o milho subiu 29,69%, o trigo 15,16% e a soja 14,03%.

Embora não existam dados consolidados sobre os preços das leguminosas, a tendência é clara: os custos da produção de rações ultrapassaram o IPCA. Um estudo preliminar com uma empresa da região de Campinas/SP aponta aumento médio de 7,2% nos preços das rações secas e petiscos.

A ausência de índices específicos para o mercado pet evidencia uma lacuna a ser preenchida. Medir com regularidade os preços de alimentos, serviços de saúde, produtos de higiene e até itens de vestuário voltados aos pets traria mais clareza para consumidores, investidores e empresas. Transparência e previsibilidade são fundamentais em um mercado em expansão — e que segue exigente mesmo diante de adversidades econômicas.

Ainda que os tutores priorizem a compra de itens essenciais, a tendência é que produtos considerados supérfluos percam espaço. É o comportamento de consumo se ajustando à nova realidade.

O mercado pet, resiliente e em constante evolução, pede atenção. A complexidade das forças que influenciam seus preços exige estudos contínuos e acompanhamento próximo. Somente assim será possível compreender — e antecipar — os movimentos de um setor que, mesmo diante da inflação, segue pulsando forte no coração da economia brasileira.

*Eli Borochovicius é administrador e professor de finanças da PUC-Campinas

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