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Queimadas acumulam efeitos devastadores à vida animal nos biomas

Espécies silvestres resgatadas nas áreas mais afetadas pelos incêndios nem sempre conseguem retornar à natureza, em razão de ferimentos severos e incapacitantes

 

O Brasil concentra hoje mais de 70% de todas as queimadas registradas na América do Sul. Os dados são do BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em apenas 48 horas, o sistema captou 7.322 focos de incêndio. De janeiro até meados de setembro, o acumulado é de 180.137 focos, um número 108% maior em relação ao mesmo período de 2023. Por trás de todas estas estatísticas, há uma perda de biodiversidade incalculável e um comprometimento sem precedentes à vida animal nos biomas atingidos pelos incêndios.

Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga, domínios severamente afetados pelas queimadas, calculam os efeitos devastadores sobre a flora e a fauna. Em 2020, ano marcado por episódios de grandes queimadas no Pantanal, um estudo realizado por 30 pesquisadores de órgãos públicos, universidades e ONGs estimou em ao menos 17 milhões os animais vertebrados que morreram em consequência direta dos incêndios.

De predadores de topo de cadeia, a exemplo da onça-pintada, a pequenos roedores, avese répteis, as imagens que circulam em redes sociais e em algumas reportagens de televisão, são estarrecedoras. Intoxicados e profundamente feridos, muitos animais, vítimas das queimadas, não têm chance de voltar à natureza mesmo depois de recuperados.

Nas áreas afetadas, técnicos, biólogos e outros profissionais têm colocado em prática ações preventivas para o afugentamento de animais de locais de risco de fogo. Há também o aporte nutricional, com oferta de alimento onde os bichos buscam refúgio. Os médicos-veterinários atendem não apenas espécies silvestres, mas também animais domésticos feridos nos incêndios.

 

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A Associação Mata Ciliar, que há quase 40 anos desenvolve ações para a conservação da biodiversidade, vem resgatando cerca de 20 animais por dia em queimadas na região de Jundiaí (SP). Somente em agosto, foram atendidos cerca de 600 animais vitimados pelas queimadas. Além do resgate, o trabalho prevê a reabilitação das espécies.

De acordo com a entidade, muitos animais são atropelados ao tentar escapar dos incêndios. Espécies de pequeno porte, como gambás, tatus e ouriços são as principais vítimas, por terem maior dificuldade de se locomover quando estão próximas do fogo.

As consequências dos incêndios florestais para os animais são graves. Inalação de fumaça e fuligem e incineração podem matar as espécies, assim como a falta de alimentos. O fogo também leva à perda de biodiversidade e descaracterização dos biomas, atraindo animais que não pertencem àquele domínio natural. Impactos na reprodução e também na imunidade e no desenvolvimento de espécies silvestres vêm sendo registrados por pesquisadores e estudiosos de fauna.

Com a frequência e a intensidade dos incêndios florestais em diversas áreas geográficas do Planeta, incluindo o Brasil, cientistas estimam que pelo menos 1.660 espécies de animais sejam extintas no mundo.

Segundo o historiador ambiental Stephen Pyne, professor emérito da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, o momento atual, caracterizado pela excepcional capacidade humana de manipular o fogo, é chamado de “piroceno”.

Em seu livro, The pyrocene: How we created an age of fire, and what happens next, publicado em 2021, Pyne observa: “Desenvolvemos pequenas entranhas e grandes cabeças cozinhando alimentos; subimos na cadeia alimentar cozinhando paisagens; e agora nos tornamos uma força geológica cozinhando o Planeta.”

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