*Por Vânia Lys Vaccari
Hoje é Dia do Trabalhador. É aquele momento do ano em que a gente homenageia quem trabalha o ano todo, quem faz a diferença no dia a dia, quem está ali, firme, cumprindo seu papel na engrenagem da sociedade. Mas e se eu te dissesse que tem uma turma que também merece ser lembrada e não tem carteira assinada nem salário? Estou falando dos pets trabalhadores.
Sim, aqueles cães e gatos que dividem a rotina com humanos em postos de gasolina, comércios, delegacias, hospitais e até empresas. Alguns têm crachá, recebem carinho e cuidados diários. Outros, infelizmente, são largados à própria sorte, acorrentados em terrenos vazios como se fossem alarmes vivos. E é justamente esse contraste que a gente precisa discutir.
Os bons exemplos existem e devem ser celebrados
Já contamos aqui no Portal PetON uma história que aquece o coração: a dos frentiscães do posto Castelo, em Campinas. (veja matéria aqui). Matuê, Mc Poze e Nagalli não são apenas “mascotes decorativos”, mas eles fazem parte da equipe. Começam o dia com boas espreguiçadas, café da manhã reforçado (ração de qualidade e água fresca), vestem o uniforme e estão prontos para a missão: espalhar afeto. Recepcionam clientes, participam das promoções, posam para selfies e, como bons anfitriões, ainda dividem ração e água com cães de rua que passam por lá. Um exemplo de como acolher com responsabilidade e transformar o ambiente de trabalho com empatia.
E o que dizer da Thai, a “delegata” de São Gabriel, no Rio Grande do Sul? Resgatada durante uma enchente, a gata encontrou abrigo, afeto e um cargo simbólico na delegacia local. Ganhou uniforme, perfil nas redes sociais e uma equipe que se reveza para cuidar dela até nos fins de semana. Parece simples, mas é um gesto que mostra carinho num ambiente onde, muitas vezes, a dureza impera.
Cães heróis: trabalhadores fardados que também merecem dignidade
Outros trabalhadores de quatro patas que também merecem reconhecimento neste Dia do Trabalhador são os cães policiais e cães bombeiros. Eles atuam lado a lado com humanos em missões de alto risco, resgatando vítimas em escombros, rastreando pessoas desaparecidas, identificando drogas, armas e explosivos. São treinados com rigor, seguem escalas de trabalho controladas e, ao fim da carreira, têm direito à aposentadoria, muitas vezes sendo adotados pelos próprios tutores.
Esses cães não são apenas “instrumentos de trabalho”, mas verdadeiros parceiros das forças de segurança. Quando tratados com respeito e dignidade, com descanso adequado, alimentação de qualidade, assistência veterinária e afeto, são exemplos de como é possível conciliar função e bem-estar animal.
A existência de políticas públicas e protocolos que asseguram o cuidado antes, durante e depois do serviço ativo reforça o que deveria ser regra para todos os pets trabalhadores: vida digna, cuidados constantes e reconhecimento pelo papel que desempenham.
Mas e os invisíveis?
Só que nem tudo são flores. Ainda é comum ver cães usados para guarda em terrenos baldios, galpões e construções abandonadas. Muitos estão sozinhos, sem abrigo contra o sol quente ou a chuva, presos em correntes curtas, sem água limpa, comida decente ou qualquer tipo de afeto. São tratados como ferramentas de segurança, não como vidas.
Isso não é trabalho, é crueldade.
Usar um animal como vigilante não dá o direito de negligenciá-lo. A guarda responsável exige, no mínimo, o básico: alimentação adequada, abrigo, liberdade de movimento, acesso à água limpa, cuidados veterinários e, sim, companhia. Porque animal também sente solidão. Também sente medo. Também sente dor.
Não é sobre ser contra a função. É sobre ser a favor da vida
Não se trata de demonizar quem mantém um cão para guarda. Trata-se de lembrar que, mesmo nesse papel, o animal tem necessidades físicas e emocionais. Não pode ser deixado à míngua, como se fosse parte do muro ou um alarme de quatro patas.
Animais são seres sencientes. Sentem. Sofrem. E merecem respeito.
Neste 1º de Maio, que a gente olhe com mais atenção para esses trabalhadores silenciosos, de focinho molhado e olhar expressivo. Que os bons exemplos se multipliquem, e que os maus sejam cobrados. Porque trabalho sem dignidade é exploração – e isso vale para humanos e não humanos.
Maus-tratos é crime
Por fim, vale lembrar: deixar animais sozinhos, acorrentados, sem abrigo, sem comida ou água não é apenas negligência, é crime! Maus-tratos são proibidos por lei (Lei Federal 9.605/98), e podem levar à pena de até cinco anos de reclusão, além de multa e proibição da guarda. Ter um animal sob sua responsabilidade exige mais do que intenção, exige compromisso real com o bem-estar dele.
Cuidar é obrigação legal, ética e moral. E sim, dá para fazer diferente, com respeito, carinho e responsabilidade. Dá certo, e faz toda a diferença!