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Devolução de pets

Rejane Fini*

Rejane FiniApesar de ter visto praticamente de tudo em muitos anos de atuação em Proteção Animal, a devolução de pets é uma prática que, por mais que eu me esforce, não consigo entender.

O processo começa com a família indo até a feira de adoção, cheia de empolgação e animação para buscar o novo membro da família. Uns gostam do branquinho, outros do amarelinho, debatem ansiosos, olhos brilhando, e chegam a um consenso após verificar as opções.

Escolha feita, passam pela longa entrevista de adoção, concordam com os compromissos futuros, assinam o termo de adoção e partem para comprar o “enxoval do bebê”.

Os dias passam, levam o pet para próxima dose da vacina ou agendam a castração, tudo se cumprindo conforme o combinado.

O animal segue amado e mimado, saudável e feliz em seu núcleo familiar. Mas depois de dois anos recebendo fotos e notícias, chega até nós uma mensagem, dizendo que terá que devolver o pet, que pelos motivos x, y ou z não terá mais lugar na família

Os motivos são os mais variados, incompreensíveis e infelizes possíveis. “Vou mudar de cidade ou país, “preciso mudar e o dono da casa não aceita pet, meu quintal é pequeno, vou morar em apartamento, ele mordeu meu filho/marido, meu filho/marido”, meu filho passou a ter alergia, vou casar, vou me separar”…

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Todas estas razões alegadas são conversadas durante a entrevista de adoção. E não são motivos/desculpas para devolver o bichinho.

Alguns são devolvidos com cerca de sete meses, período próximo ou durante o cio. Para muitas famílias, eles passam a fazer muita bagunça ou já cresceram e perderam a graça”.

Após anos de convívio, já presenciei a devolução de idosos. E me pergunto: como justificar tamanha frieza?

Mudanças de casa para apartamento, de cidade ou país não deveriam ser motivos para descartar o membro da família que o pet se tornou. Se o proprietário da casa não aceita o pet, é óbvio que o tutor deverá ir para outro endereço. Mudanças, principalmente de país, envolvem gastos com transporte, veterinário, exames e licenças. Seja como for,deverá ser previsto como orçamento da família.

O bichinho mordeu alguém? Busque um veterinário, realize exames. Talvez o pet esteja com dor. Converse com adestradores e procure entender o comportamento do animal para resolver o problema. Alguém passou a ter alergia? Restrinja a circulação do pet ao quintal ou jardim, evitando o convívio com o alérgico enquanto o tratamento é feito.

Vai se casar ou se divorciar? O pet que até pouco tempo dormia na cama do casal, passa a valer menos que uma cadeira durante a divisão de bens.

O animal sempre entra em depressão quando é separado da família. Surgem doenças, apatia, medo, perda de apetite, nervosismo. Afinal, o pet não entende por que sua família o deixou em algum lugar e nunca mais voltou para buscá-lo. Nestas situações, às vezes o pet espera a própria morte.

Adoção não é para amadores. É um compromisso de grande responsabilidade pelos próximos 15, 20 anos. Este tempo significa gastos com veterinário, ração de qualidade, caminhas, casinhas, cobertores, coleiras, chip, petiscos, vacinas anuais, castração, passeios. E também o que não tem preço para um animal: segurança, tempo, atenção e amor.

*Rejane Fini é protetora de animais há 30 anos e fundadora da Ong Adoções Corrente do Bem, que completa 10 anos em 2024.

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