Vira-lata caramelo emociona ao mostrar apego aos tutores e chama atenção para a solidão dos pets
Um vídeo enviado ao Portal PetON e postado pelos tutores nas redes sociais tem feito muita gente se derreter e refletir. Nele, a protagonista é Amora, uma vira-lata caramelo carismática que mostra, sem dizer uma palavra, o quanto não gosta de ficar sozinha. Ao perceber os tutores se preparando para sair, ela corre na frente, entra no elevador antes deles e se recusa a sair. Só depois de muita insistência é que volta para dentro do apartamento, contrariada.
Mais do que uma cena fofa e engraçada, o comportamento de Amora revela um transtorno comum entre cães: a síndrome do abandono, também conhecida como ansiedade de separação.
Do mato para a vida em família
A história de Amora começou de forma bem diferente. Em julho de 2018, o jornalista Tom Bueno dirigia rumo a uma chácara em Santa Bárbara d’Oeste (SP) quando avistou uma cachorrinha sozinha no mato. Magra a ponto de ter as costelas à mostra, coberta de carrapatos e com olhar desconfiado, ela havia construído um ninho para se proteger — onde também escondia comida.
O primeiro nome dado foi “Costelinha”, por motivos óbvios. Mas, depois de cuidados e muito carinho, ela ganhou um novo nome e uma nova vida: virou Amora.
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Tom a levou direto para São Paulo, onde passou por atendimento veterinário, tomou vacinas, ganhou banho, caminha, e um lar com amor — ao lado de Tom e, mais tarde, também do companheiro dele, Vitor.
Uma “sombrinha” atrás dos tutores
No início, Amora tinha muito medo de humanos. Aos poucos, se acostumou ao convívio com Tom, começou a passear na rua, mas passou a latir para outros cães e a evitar contato com estranhos. Quando parecia estar se adaptando bem, veio a pandemia e o isolamento. Com os tutores em casa o tempo todo, o apego se intensificou, e o medo da separação também.
“Ela destruiu quatro sofás durante esse período”, conta Tom. Foram necessários treinos com adestradores e muito carinho para que a situação melhorasse. Hoje, sete anos depois do resgate, Amora está mais tranquila e não destrói mais nada, mas ainda não gosta de ficar sozinha.
“Ela é nossa ‘sombrinha’. Está sempre atrás da gente. Quando percebe que vamos sair, corre para pegar a coleira ou, como nesse vídeo, entra no elevador antes da gente e não quer sair”, conta Tom.
Apesar de não gostar de ficar sozinha, Amora tem uma rotina bacana: passeia diariamente, inclusive na praia já que hoje eles moram em Salvador, frequenta creche uma vez por semana e viaja com os tutores sempre que possível. Quando necessário, fica em hotelzinho para pets onde já está adaptada. Mas em casa… a história é outra.
Entenda a síndrome do abandono (ou ansiedade de separação)
Segundo especialistas, a ansiedade de separação é um transtorno comportamental que atinge muitos cães e gatos, especialmente os que desenvolveram um apego muito forte aos tutores. O pet sofre ao ficar sozinho, o que pode gerar estresse, comportamentos destrutivos e até problemas de saúde.
Causas mais comuns:
• Vínculo excessivo com o tutor
• Mudanças na rotina ou no ambiente
• Falta de estímulo ou socialização
• Predisposição genética
Sinais de ansiedade de separação:
• Destruir móveis ou objetos
• Latir, uivar ou chorar em excesso
• Fazer xixi e cocô em lugares inadequados
• Lamber ou morder as patas compulsivamente
• Recusar comida e água
• Tentar escapar de casa
• Agitação e salivação quando o tutor se ausenta
• Acostume o pet à sua ausência de forma gradual, com saídas curtas que vão aumentando
• Use brinquedos com petiscos ou atividades interativas para distraí-lo
• Evite despedidas dramáticas ao sair e chegue com calma, sem euforia
A história da Amora mostra como o amor transforma, mas também como o excesso de apego pode gerar ansiedade nos pets. A boa notícia é que, com paciência, orientação profissional e uma rotina adequada, é possível ajudar os animais a lidarem melhor com os momentos de separação. Consultar um veterinário ou especialista em comportamento animal, oferecer um ambiente enriquecido com brinquedos, desafios e conforto, e manter uma rotina estável — com horários para alimentação, passeios e brincadeiras — são atitudes que fazem toda a diferença no bem-estar dos pets.
Mas é importante lembrar que não existe solução mágica. Cada animal tem seu tempo e suas emoções. Por isso, ter paciência e lidar com leveza, como fazem os tutores da Amora, é fundamental. Sempre que possível, incluir o pet nos passeios e viagens pode ajudá-lo a entender que nem sempre poderá ir junto, mas que a ausência do tutor é passageira e o reencontro, garantido. Afinal, para quem ama de verdade, distância nenhuma é maior que o vínculo construído com carinho e respeito.