Iniciativas em unidades prisionais de Blumenau (SC) e Santa Cruz do Sul (RS) unem ressocialização e solidariedade para oferecer conforto a cães e gatos acolhidos por ONGs e serviços públicos
Com a queda das temperaturas no Sul do Brasil, cães e gatos resgatados por ONGs e serviços públicos de proteção animal estão sendo beneficiados por uma corrente do bem que nasce dentro de presídios. Internos de unidades prisionais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul estão transformando materiais reaproveitados em mantas e casinhas para ajudar os bichinhos a enfrentar o frio com mais conforto.
Em Blumenau (SC), o projeto “AqueçaPet”, criado pela Polícia Penal do estado, mobiliza cinco internos da Penitenciária Industrial para a confecção de mantas pet. Os tecidos utilizados são doações de empresas da região e até de outros presídios, como o de Itajaí, que contribui com sobras da indústria têxtil.
Só no último fim de semana, a ONG Anjos de 4 Patas recebeu 180 mantas feitas à mão. Outras seis instituições já foram contempladas e mais de 20 aguardam na fila. A iniciativa, que também conta com o apoio dos servidores da unidade, vem se destacando pelo impacto duplo: aquece animais em situação de vulnerabilidade e oferece dignidade, ocupação e qualificação para os apenados.
“É uma corrente do bem que transforma vidas dos dois lados”, define um dos organizadores do projeto, que segue em busca de novos parceiros para doação de tecidos, linhas e outros materiais.
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No Presídio Regional de Santa Cruz do Sul (RS), outro exemplo de solidariedade tomou forma com a produção de casinhas para cães e gatos. Fruto de uma parceria entre a Polícia Penal e a Prefeitura Municipal, o projeto já entregou as primeiras unidades ao Centro de Bem-Estar Animal (CBEA), órgão vinculado à Secretaria de Bem-Estar Animal.
As casinhas são confeccionadas por dois internos com materiais reciclados, como paletes, telhas e caixas de leite. A cada nova entrega, mais insumos são enviados pela prefeitura para garantir a continuidade do trabalho. Além de contribuir com a causa animal, os apenados envolvidos têm direito à remissão de pena, conforme a Lei de Execução Penal, e recebem capacitação para o mercado de trabalho.
Para a delegada da 8ª Delegacia Penitenciária Regional, Samantha Longo, o projeto é prova de que a reintegração social é possível e benéfica.
“A iniciativa, aparentemente pequena, é um grande gesto. Os apenados contribuem de forma concreta com a comunidade e com os animais”, afirmou.
Já o diretor da unidade, Gustavo Barcelos, destacou a importância do engajamento:
“É o primeiro passo para o resgate da autoestima e da cidadania dessas pessoas. Elas aprendem uma profissão e percebem que podem exercer um papel útil na sociedade.”
Ambas as ações reforçam como o sistema prisional pode ser um espaço de transformação social, não só para quem cumpre pena, mas também para os que mais precisam de cuidado — os animais resgatados, muitas vezes vítimas de abandono e maus-tratos.
Empresas ou pessoas interessadas em colaborar com doações de tecidos, madeira ou outros materiais podem entrar em contato diretamente com as unidades envolvidas.