Ainda não existe um consenso em relação à essas questões, mas os cientistas cada vez mais encontram evidências
O relacionamento entre cachorros e humanos remonta a dezenas de milhares de anos, mas, até hoje, não se sabe exatamente de onde os cães domésticos vieram e quando se tornaram nossos melhores amigos. De toda forma, análises de DNA, datação por radiocarbono e técnicas avançadas de medição têm ajudado os cientistas a obter alguns avanços nessa questão.
Diversas pesquisas realizadas ao redor do mundo estudam fósseis caninos. Nelas, são examinadas suas características morfológicas, como tamanho e arranjo dos dentes, tamanho e comprimento do focinho e mandíbulas, e o formato do crânio. Os pesquisadores, então, os comparam com cães modernos, lobos modernos, fósseis de cães antigos confirmados e fósseis de lobos pré-históricos.
Neste tipo de estudo, uma técnica empregada é a medição óssea chamada morfometria geométrica, que analisa as curvas de um crânio para que espécimes individuais possam ser mais facilmente comparados entre si, informa reportagem da National Geographic.
Mas nem sempre é fácil determinar exatamente o que são esses ossos. Alguns de lobo-cão da Era Glacial são classificados como “cães incipientes”, o que significa que estão nos estágios iniciais de transição do desenvolvimento, ou seja, não são lobos e nem cachorros domesticados, mas algo entre os dois.
O mais antigo fóssil desse tipo registrado, um grande crânio, foi encontrado em uma caverna em Goyet, na Bélgica, na década de 1860. De acordo com a datação por radiocarbono, ele tem quase 36.000 anos.
Outro osso de cão incipiente foi descoberto em uma caverna nas Montanhas Altai da Sibéria, em 1975. Pela datação por radiocarbono, tem aproximadamente 33.000 anos de idade.
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A NatGeo destaca que a crença é que o fóssil de cão mais antigo confirmado, conhecido como cão Bonn-Oberkassel, tenha pouco mais de 14.000 anos. Os restos mortais do cão, junto com os de um homem e uma mulher, foram encontrados em 1914 em um túmulo antigo em Oberkassel, na Alemanha.
Este fóssil também é a evidência mais antiga confirmada de um enterro de cachorro doméstico com humanos, o que significa um alto nível de consideração e sugere a eventual transição de animal selvagem para animal de estimação.
Mais alguns ossos de tempos remotos foram encontrados no sítio arqueológico Koster, no Vale do Rio Illinois, nos Estados Unidos – datam de 10.000 anos – e no Alasca, com data de de 10.150 anos.
Em relação a este último, análises posteriores revelaram que ele está intimamente relacionado a um ancestral canino que viveu na Sibéria há 23.000 anos. A hipótese é que que caçadores siberianos da Era Glacial domesticaram os cães, e eles, junto com humanos, migraram para a América do Norte.
Origem geográfica e análise de DNA
Por enquanto, não se sabe com 100% de certeza de onde os cachorros domesticados saíram. Pode ser mesmo da Sibéria, mas há estudo que indicam que pode ter sido em outros locais da Europa ou ainda da Ásia e do Oriente Médio.
A análise de DNA mitocondrial, que usa uma técnica altamente sensível para observar um tipo específico de DNA encontrado em fósseis antigos, trouxe novas informações para pesquisadores que tentam identificar um período de tempo para a origem do cão moderno.
Embora evidências fósseis indiquem que a domesticação dos cães ocorreu há cerca de 14.000 anos, pesquisas baseadas em DNA frequentemente colocam a divisão entre lobos e cães muito antes. Um estudo de DNA de 2022, que analisou 72 genomas de lobos antigos abrangendo 100.000 anos, concluiu que os cães provavelmente surgiram há 40.000 anos.
Isso, inclusive, está em linha com trabalhos anteriores. Por exemplo, um de 2017 analisou genomas de três fósseis de cães antigos da Alemanha e da Irlanda e os comparou com dados genéticos de mais de 5.000 cães e lobos modernos. Ao final, os cientistas estimam que cães e lobos se separaram entre 37.000 e 41.000 anos atrás.
Esse estudo também determinou que os cães se dividiram em duas populações entre 17.000 e 24.000 anos atrás: oriental (os progenitores das raças do leste asiático) e ocidental (que se tornariam as raças modernas europeias, sul-asiáticas, centro-asiáticas e africanas). Com base nesses períodos de tempo, eles estimam que a domesticação dos cães ocorreu em algum momento entre 20.000 e 40.000 anos atrás.