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Humanização dos cães, qual o problema para o animal?

Daniel Moreira*

 

 

Quando foram criadas as raças de cães, estes tinham funções de ajudar o ser humano, como na caça, na condução do rebanho, proteger a propriedade, busca e salvamento, etc. Com o passar dos anos, na Europa vários casais começaram a optar em ter cães em vez de filhos com medo do filho ser mandado para guerra. Muitos anos depois as pessoas diminuíram a questão de ter filhos humanos e se tornaram “pais e mães de Pet”. Até aí tudo bem!

Na minha visão, o problema começou quando muitas dessas pessoas começaram a querer humanizar esses animais, ou seja, tratar os pets como se fossem crianças humanas, colocando roupas, sapatos, levando para creche, comemorando festas de aniversário com bolo, decoração e convidados, providenciando boias para entrar na piscina, vestindo capa de chuva, proporcionando banho em ofurô com sais de banho, pintando as unhas, usando chapéu e muitas outras coisas que antes eram coisas para os seres humanos e agora são “normais” para os animais de estimação, na visão dos donos, ou melhor, “pais de pets”.

Hoje em dia ao dizer que é dono do cão, do cachorro, da cadela, do animal, muitas vezes pode soar como ofensivo. Hoje se denomina “Tutor(a)”, ou “pai/mãe de pet”. Para a indústria do mercado Pet, que movimenta milhões, isso tudo é maravilhoso, mas e para os animais?

Acredito que eles acabam sofrendo com isso tudo. Os cães, por exemplo, estão perdendo sua identidade, que antes eram de animais que se sentiam importantes por poderem ajudar seus donos. Hoje são bibelôs de humanos que não tiveram filhos ou que tiveram, mas que se sentem carentes e precisam depositar sua carência afetiva nos pets, que correspondem da melhor forma, porque assim se sentem “úteis” em poder ajudar o ser humano.

 

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Como zootecnista tenho grande experiência prática na área, principalmente com cães, e vejo como a humanização tem crescido. Mesmo assim, continuo trabalhando com o método de “Matilha” (método mais próximo do instinto animal), enquanto muitos adestradores optam em trabalhar com o método de “Reforço Positivo”, que é um método mais humanizado, porém menos natural para o cão. O objetivo desse método é agradar mais o dono do animal. Mas quando se trata de cães agressivos, com muita dominância e um instinto animal mais forte, esse método humanizado não consegue ajudar e nós que trabalhamos com o método mais natural “matilha” é que sabemos como agir. Isso se dá porque cães são animais e animais agem por instinto.

Pastor Belga de Malinois, Border Collie, Golden Retriever, American Pitbull Terrier, Yorkshire Terrier, Beagle, Blue Hiller, Jack Russel Terrier, Husky Siberiano, entre outros, são cães comuns de se ver hoje em dia, certo?

Se pegarmos essas raças que citei acima, os Terriers: Jack Russel, Yorkshire e Pitbulls, foram todas raças criadas para caçar e matar suas presas.

Quando esses cães são criados em apartamentos ou em casas pequenas, sem muita atividade física, além de destruir sua casa, podem se tornar agressivos por falta de atividades físicas adequadas.

Beagle (da família dos Sabujos): são cães farejadores, que caminham quilômetros ao lado do caçador em seu cavalo para ajudar a localizar a caça. Quando colocados em um quintal, apartamento ou casa sem muita atividade física têm fama de destruir tudo, assim como os Goldens Retriever e Labradores, que foram criados para nadar e buscar os patos abatidos dentro das lagoas.

Border Collie e Blue Hiller têm energia para pastorear ovelhas e bois o dia todo. Husky Siberiano corre quilômetros por dia na neve puxando trenó. Nem preciso dizer o que acontece quando esses cães não fazem atividade suficiente, né?

Pastores Belga de Malinois: quando eu era criança já ouvia pessoas dizerem “essa raça é para adestradores e policiais”, por conta de serem cães com muita energia e um pouco mais difíceis de controlar. Se não forem bem treinados podem se tornar animais agressivos e perigosos. E hoje tem gente que adquire um desses e acha que dar uma volta no quarteirão e enchê-lo de amor e carinho é o suficiente.

Para concluir, trago a posição de que os cães precisam ser cães, assim como humanos precisam ser humanos, quando cães são tratados como humanos, cria-se uma confusão na cabeça do animal fazendo com que ele sofra sem saber o que ele é. Lembram do Tarzan ou do Mogli? Um foi criado por macacos, o outro por lobos, e apesar de serem bem-criados com amor, se sentiam fora daquele grupo, daquela família por serem diferentes!

Cães precisam caminhar muito todos os dias, precisam ter líderes (não só pai e mãe humanos), precisam tomar sol, chuva, ter contato com a natureza. Para eles é muito mais importante e gratificante rolar na grama ou cavar um buraco, do que passear no shopping ou tomar banho com xampu hidratante toda semana. Se você ama seu cão, respeite-o e deixe ele ser um cão!

Por que não se deve vestir roupas em cães? Acompanhe no próximo artigo sobre humanização de pets que eu falarei mais!

 

 

* Daniel Moreira Teles de Menezes, formado em Zootecnia pela Universidade São Marcos em São Paulo. Trabalha com adestramento e comportamento de cães desde 2001. Ministra cursos e palestras em eventos, universidades e escolas, além de ser CEO da empresa Filhocão (www.filhocao.com.br)

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