Profª Dra. Michele A. de Barros*
Introduzir um gato no ambiente em que vive outro gato é uma situação desafiadora. O êxito está relacionado à disponibilidade de tempo, paciência e requer planejamento por parte do tutor.
Gatos são territoriais. Isso quer dizer que quase sempre delimitam áreas que ficam sob seu poder, geralmente locais em que dormem e comem. Esta característica é herdada dos felinos selvagens, que precisavam garantir água, alimento e abrigo para sobreviver.
Então, introduzir um gato no ambiente habitado por outro gato é, por vezes, uma tarefa complicada. Mas vamos mostrar uma sequência de ações propostas pela Cat Friendly Homes. Desenvolvidos por veterinários especialistas em felinos, estes passos podem ajudar os tutores nesta introdução.
Ação 1
Isole seu novo gatinho em sala separada e coloque caminha, água, comida, a caixa sanitária, roupas de cama e alguns brinquedos.
Se possível, traga itens familiares do local de adoção. O cheiro conhecido trará conforto a ele no novo ambiente.
Caso haja outros gatos em casa, este será o primeiro passo para que os animais se “sintam”, percebam cheiros e sons, porém sem chance de confronto direto.
Ação 2
Certifique-se de passar muito tempo com cada gato ou grupo de gatos individualmente.
Mantenha a caixa transportadora aberta para que o gato tenha um lugar para se esconder, se necessário. Aliás, a caixa aberta é sempre uma oportunidade para o felino se familiarizar com ela. Essa familiaridade ajudará muito quando você precisar transportá-lo.
Ação 3
Quando todos os gatos da casa se sentirem relaxados, comece gradualmente a mover os pratos de comida para mais perto da porta que os separa. Se notar qualquer estresse ou ansiedade, volte para a etapa em que eles estavam confortáveis. Tenha paciência e não desanime.
Ação 4
Experimente usar um brinquedo para que os gatos brinquem por baixo da porta quando estiverem mais calmos e curiosos.
Se os gatos estiverem tranquilos, use um pano/cobertor para limpar um deles. Em seguida, coloque este pano na sala com os outros gatos. Faça o mesmo com o novo gato, para que possa sentir o cheiro dos animais que já estão em sua área.
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Ação 5
Se todos os gatos estiverem confortáveis, você também pode misturar os aromas em um pano, limpando primeiro um gato, depois o outro.
Ah, lembre-se de recompensar todos os animais que apresentarem comportamentos calmos com petiscos e elogios com tom de voz suave.
Ação 6
Quando os gatos estiverem confortáveis com as etapas acima, é o momento de tentar uma interação breve e segura. Isso pode ser feito abrindo um centímetro ou menos da porta para que os dois gatos fiquem a salvo, mas possam começar a se ver.
Se um gato fizer “fu” ou tentar atacar, feche a porta, recue o processo e reinicie gradualmente. Mais paciência.
Uma dica: às vezes, distrair os gatos com comida pode ser útil.
Ação 7
Quando tudo estiver indo bem, coloque o novo gato dentro de uma caixa transportadora e permita que o(s) outro(s) gato(s) explore, vendo e cheirando o novo animal mais de perto em um ambiente seguro.
Continue a recompensar comportamentos calmos com petiscos e elogios em voz baixa.
Ação 8
Se seus gatos parecem confortáveis no ambiente, o próximo passo é tentar colocá-los na mesma sala com supervisão direta. Nunca os deixe sozinhos.
Comece as apresentações por breves períodos para ajudar a tornar essas experiências mais positivas.
Lembre-se de ser paciente e voltar alguns passos, se necessário, e gradualmente reintroduzi-los.
Agora algumas dicas:
1. Você pode utilizar difusores ambientais que podem ajudar os gatos a viver em harmonia. Esses difusores exalam um análogo sintético do odor materno felino, e isso propicia um ambiente mais tranquilo para todos.
2. Uma vez aclimatados com sucesso, lembre-se que cada gato ainda precisa de seus próprios recursos, geralmente em locais diferentes, como comida, água, roupa de cama e caixas sanitárias. Mesmo que estejam ambientados, continuam sendo territoriais. Desta forma conseguimos minimizar o estresse.
3. À medida que seu novo companheiro felino se torna mais confortável, é mais provável que ele explore e teste os limites. Verifique sempre os perigos potenciais em casa, como plantas venenosas, objetos quebráveis etc. Quanto mais preparado você estiver, mais suave será esta introdução.
*Michele A. de Barros tem graduação em Medicina Veterinária pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos (Unifeob), residência em clínica médica de pequenos animais, pós-graduação lato sensu em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais na mesma universidade. Fez mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), com pesquisa voltada para células-tronco na Nefrologia, e doutorado em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com estudo de células-tronco na Neurologia. Membro fundador da International Association Cellular Regenerative Veterinary (Iacervet), consultora técnica da empresa Ourofino Saúde Animal na área de Terapia Celular. É professora titular no curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).