Daniel Moreira*
Com a aproximação do frio, os tutores logo pensam em agasalhar seus cães. Mas será que os animais necessitam mesmo de roupas?
Fisiologicamente falando, a resposta é: não.
Nas aulas de biologia animal, os professores diziam: “Os mamíferos têm pelos para se aquecerem.” É esta é a mais pura verdade.
Assim como os gatos, e diferentemente dos humanos, os cães não têm glândulas que os fazem transpirar. A troca de calor nestes animais se dá pela língua e pelos coxins, aquelas almofadinhas embaixo das patas.
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Ao sentir frio, um gato se deita sobre as patinhas, cobrindo-as. Já um cão, deita-se enrolado, como uma bolinha, protegendo o focinho. Quando o focinho esquenta, todo o corpo se aquece.
Vestido com roupa, a tendência é que o cão tire o focinho do aquecimento. E focinho desaquecido, na certa, é frio no corpo inteiro. Neste esquenta e esfria, o animal acaba sentindo mais frio.
Os cães passam por duas trocas de pelos durante o ano. Uma delas é próxima do inverno, quando uma pelagem mais densa vem para suportar o frio. Perto do verão, a troca por pelos menos densos é para atravessar o calor. Vale lembrar que algumas raças trocam o pelo o ano todo. Mas de forma intensa, é nestas duas ocasiões.
No frio, é importante não tosar os cães. Se for mesmo necessário fazer a tosa, o tutor pode colocar a roupa para aquecê-lo e evitar correntes de vento. Com algumas raças, como o pelado-mexicano, que quase não tem pelos, deve-se redobrar os cuidados nos dias de inverno. E ao invés de roupas, o dono também pode providenciar mantas e cobertores nas caminhas.
No que diz respeito a comportamento, tenho clientes que nesta época se preocupam muito em aquecer os pets com roupas, cobertas etc. Mas se pensarmos em cães de raça, a maioria é originária de regiões de clima frio, como Alasca, Europa e América do Norte, e estão preparados para suportar baixas temperaturas, seja por causa do pelo denso, da pele mais grossa e por certa camada de gordura.
Cães como São Bernardo, husky siberiano e outras raças buscam lugares mais gelados para dormir, inclusive no inverno. Isso porque o inverno brasileiro não se compara ao frio de seus países de origem.
Há clientes que me dizem: “Meu cachorro gosta de colocar roupa! Ele fica feliz; até pede” Na verdade, os cães gostam de agradar as pessoas, de se sentirem úteis. E todo mundo, quando veste a roupa em um cão, tem uma reação feliz, olha para o animal e diz: “Que lindo! Vai ficar quentinho”.
Com isso, o cão assimila que o uso da roupa vai deixar seu humano feliz. Então ele fica satisfeito por dar este prazer ao dono.
Cães acostumados a usar roupa toda vez que esfria, vão sentir mais frio quando não forem vestidos. Os que usam são animais mais sensíveis e suscetíveis a doenças. E são mais humanizados.
Muitos tutores gostam de vestir seus animais em ocasiões especiais, como Natal e Réveillon. Neste caso, não há problema, mesmo porque nestes casos as roupas não têm a finalidade de aquecê-los.
Sapatos, tênis e meias, em minha opinião, é o cúmulo da humanização. Cães não foram criados para usar calçados. Não combina e não faz bem.
Com o uso de calçados, o animal pode pisar torto e ter problemas. E como fazem a troca de calor pelos coxins, são prejudicados.
Para evitar que o cão queime as patas no chão quente, é recomendável caminhar com ele à noite ou logo pela manhã. Quem não quer o animal com as patas sujas, pode lançar mão de uma solução muito simples: ao chegar em casa, basta limpá-las com pano úmido e finalizar a higiene com um pano seco para evitar a proliferação de fungos.
*Daniel Moreira Teles de Menezes é formado em Zootecnia pela Universidade São Marcos, em São Paulo. Trabalha com adestramento e comportamento de cães desde 2001. Ministra cursos e palestras em eventos, universidades e escolas. É CEO da empresa Filhocão.