Os caminhos da inovação na saúde animal no Brasil

*Por Gabriela Mura

 

Gabriela Mura O Brasil tem se destacado no cenário mundial quando o assunto é saúde animal. Nosso clima tropical, aliado à grande população de pets e também de animais de rua, coloca o país entre os maiores mercados de antiparasitários, produtos veterinários fundamentais para o controle de pulgas, carrapatos e verminoses. Esses medicamentos desempenham papel decisivo não apenas na proteção de cães e gatos, mas também na saúde pública, já que muitas dessas doenças são zoonoses. Este protagonismo, no entanto, traz responsabilidades proporcionais, especialmente diante de um contexto em que tutores estão mais exigentes e a medicina veterinária se encontra em plena transformação.

Pesquisa Radar Vet 2025, realizada pelo Sindan, mostra que o veterinário continua sendo a principal referência para tutores na decisão sobre vacinas, medicamentos e suplementos. Ainda assim, cresce a influência da internet e até de profissionais do varejo no momento de buscar informações sobre a saúde dos animais. Esse cenário pressiona o veterinário a se reinventar e se especializar: hoje, dois em cada três já possuem ou estão concluindo uma pós-graduação em áreas como clínica médica, anestesiologia e medicina felina. O resultado é uma profissão que se reposiciona, assumindo o papel de articuladora de um ecossistema mais complexo e integrado.

O desafio, porém, vai além da consulta no consultório. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2007 e 2023, foram registrados no Brasil quase meio milhão de casos de zoonoses. A leptospirose, por exemplo, segue causando milhares de casos todos os anos, com índices de letalidade que podem chegar a 40%. Situações como essa reforçam que o cuidado animal não é apenas uma questão de bem-estar individual: é também uma estratégia de saúde coletiva, que protege tutores e comunidades inteiras.

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A inovação tem se mostrado aliada nesse processo. A indústria de saúde animal já oferece soluções que tornam os tratamentos mais práticos e seguros, como comprimidos mastigáveis palatáveis e produtos de aplicação tópica simplificada. Avanços em terapias com células-tronco também começam a transformar a rotina de clínicas veterinárias, especialmente no tratamento de doenças degenerativas como artrite e artrose. Novos medicamentos para alergias e condições crônicas ampliam o horizonte do cuidado, respondendo a demandas cada vez mais frequentes no dia a dia dos pets.

Ao mesmo tempo, olhar para o que acontece lá fora ajuda a projetar o futuro da saúde animal no Brasil. A digitalização, com telemedicina e dispositivos vestíveis que monitoram a saúde dos animais em tempo real, já é realidade em alguns países. A medicina personalizada, baseada em testes genéticos e nutrição de precisão, começa a ganhar força. Há ainda uma pressão crescente por soluções sustentáveis, desde moléculas de menor impacto ambiental até embalagens ecológicas. Essas tendências globais apontam para caminhos que o Brasil precisa observar de perto, adaptando-os à sua realidade e à dimensão do seu mercado pet.

O que une todos esses movimentos é a centralidade do veterinário. É ele quem traduz a ciência para o tutor, quem conecta inovação ao cotidiano e quem mantém a confiança necessária para que avanços realmente façam diferença. Investir em pesquisa, atualizar marcos regulatórios e ampliar o acesso às novas tecnologias são passos fundamentais para que a saúde animal brasileira siga avançando.

Mais do que garantir qualidade de vida para cães e gatos, essa evolução fortalece a saúde pública e a integração com a vida humana. Os caminhos da saúde animal no Brasil já estão sendo construídos — e passam, inevitavelmente, pela valorização do veterinário e pela capacidade de transformar inovação em cuidado acessível e efetivo.

*Gabriela Mura é diretora de mercado e assuntos regulatórios do Sindan.

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