De vira-lata abandonada a perita criminal: a incrível trajetória da cadela Savana

História de superação mostra como uma cadela resgatada se tornou referência em perícia criminal no interior paulista

 

A cachorra Savana ainda era apenas um filhote quando foi encontrada abandonada, em estado grave de desnutrição, perto da casa do perito criminal João Henrique Machado, em São José dos Campos (SP). O resgate seria, a princípio, temporário — a ideia era acolhê-la até que pudesse ser encaminhada para adoção. Mas algo na cadela chamou a atenção de João: sua disposição para aprender, a sociabilidade e, principalmente, um faro excepcional.

O que começou como um gesto de compaixão logo se transformou em uma parceria de vida, e de trabalho. Savana foi treinada por dois anos e, após passar por testes rigorosos, tornou-se oficialmente o segundo cão perito da Polícia Científica de São Paulo, especializada na detecção de sangue humano em cenas de crime.

A ciência do faro

Savana, assim como Mani, atua no Instituto de Criminalística de São José dos Campos auxiliando investigações de crimes contra a vida. Seu faro consegue identificar manchas de sangue invisíveis a olho nu ou mesmo após tentativas de limpeza, em locais variados como veículos, peças de roupa ou propriedades rurais.

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“Para eles, o trabalho é uma grande brincadeira. Os dois competem para ver quem acha o vestígio primeiro”, conta João Henrique, tutor da dupla, que também é médico veterinário e há cinco anos desenvolve pesquisas com biodetecção na Polícia Científica.

Savana foi treinada para atuar de forma independente. O treinamento envolve sessões frequentes em diferentes horários e ambientes, incluindo locais abertos e fechados, para simular situações reais da perícia. Quando encontra um vestígio, ela se senta ou deitadiante do local, aguardando sua recompensa: uma bola de borracha.

Mais eficaz que o luminol

A atuação de cães como Savana representa uma alternativa promissora ao luminol, reagente químico tradicionalmente usado na perícia. Além do alto custo, o produto tem limitações: não distingue sangue humano de outros tipos e é pouco eficaz em áreas extensas ou iluminadas.

O faro dos cães, por outro lado, é treinado especificamente para identificar apenas sangue humano, com alto grau de precisão. Em casos já acompanhados por João, foi possível detectar vestígios com até um ano de antiguidade, como em camisetas ou em veículos envolvidos em crimes.

“Os cães melhoram a qualidade dos exames periciais. Diminuem o risco de perdas de amostras importantes e nos ajudam a decidir quais materiais devem ser levados ao laboratório para análises complementares”, explica o perito.

Vínculo além da função

Muito além da eficiência técnica, a história de Savana é também sobre afeto e parceria. João confessa que a relação entre os dois é tão próxima que, quando estão longe, quem mais sente falta é ele. “A gente fala que os cães ficam ansiosos quando se separam, mas eu que fico com ansiedade quando estou longe dela”, brinca.

Com base na experiência com Mani e Savana, João desenvolve hoje um projeto para estruturar um protocolo nacional de treinamento de cães peritos. A meta é que cada núcleo da Polícia Científica paulista possa contar com pelo menos um animal treinado para reforçar as investigações locais.

Mas ele deixa claro: não é qualquer cão que pode assumir a função. “A gente busca foco, sociabilidade e energia. E depois disso vem muito trabalho, dedicação e respeito ao tempo do animal”, explica.

De resgatada a referência

De filhote desnutrida a especialista em sangue humano, Savana é hoje uma referência na perícia forense nacional. Sua trajetória prova que, com acolhimento, treinamento e conexão verdadeira, um cão sem pedigree pode se tornar uma ferramenta poderosa de justiça e um exemplo de superação.

 

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