Cão sem patas dianteiras volta a andar com protótipo de cadeira de rodas inédito

Projeto de estudantes de Medicina Veterinária e Engenharia resultou em protótipo anatômico, de baixo custo e pioneiro no Brasil

 

 

Um desafio pet incomum transformou-se em marco científico no Centro Universitário de Brasília (CEUB). O protagonista é Bili, um poodle jovem que nasceu sem as patas dianteiras — condição rara, pouco estudada e ignorada pela indústria de acessórios veterinários. Agora, graças ao empenho de estudantes de Medicina Veterinária e Engenharia da Computação do CEUB, ele voltou a andar com uma cadeira de rodas anatômica e de baixo custo, desenvolvida a partir de tecnologias de prototipagem rápida e impressão 3D.

O projeto envolveu mais de 50 horas de trabalho contínuo, sucessivos testes, falhas e correções. A iniciativa nasceu como projeto de iniciação científica das alunas Beatriz Miranda e Sarah Mazetti. O ineditismo do caso exigiu não apenas criatividade, mas revisão aprofundada de pesquisas anteriores, o mapeamento de requisitos técnicos e materiais adequados para dispositivos assistivos. “Estudamos projetos de prototipagem rápida na medicina veterinária para compreender métodos e dificuldades”, explica Beatriz.

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O processo começou com medições detalhadas do corpo de Bili — como altura, largura do tórax e comprimento, o escaneamento 3D e um molde de gesso para validar proporções e áreas de apoio. A partir daí, as estudantes projetaram a modelagem digital em software CAD, onde ajustaram ergonomia, conforto e resistência. Com o apoio do curso de Engenharia da Computação do CEUB, o estudo evoluiu para a fase prática, transformando os modelos digitais em peças físicas.

Esse processo envolveu falhas de impressora e correções sucessivas até alcançar a versão final. Apesar dos obstáculos, os primeiros testes já mostraram que Bili se adaptava bem. “Mesmo sem estar totalmente adequada no primeiro teste, deu pra ver que ele já demonstrava familiaridade com a cadeira”, recorda Sarah. As partes rígidas foram feitas em plástico PLA, enquanto as áreas de contato receberam TPU flexível, garantindo estabilidade e conforto.

Hudson Capanema, professor de Engenharia destaca que o design foi pensado para acompanhar o crescimento do cão, permitindo ajustes conforme ele ganhasse peso ou aumentasse de tamanho. “Considerando as particularidades do Bili, escolhemos materiais que melhor se adequassem a cada componente. O corpete de apoio, por exemplo, foi confeccionado com um material mais confortável, facilitando a adaptação e reduzindo incômodos”, destaca Hudson.

Inovação acessível e impacto social

O protótipo foi concluído a um custo de R$ 448,81, valor 63% inferior ao de cadeiras de rodas comerciais, que podem ultrapassar R$ 1.200 e, ainda assim, não atendem casos como o de Bili. Para o Coordenador de Medicina Veterinária do CEUB, professor Carlos Alberto da Cruz Júnior, trata-se de um avanço com grande potencial social: “Clínicas e ONGs podem replicar esse modelo a baixo custo, democratizando o acesso à tecnologia, que hoje ainda é restrita a poucos tutores”.

Beatriz e Sarah acreditam que a impressão 3D na veterinária tende a se popularizar, embora ainda haja barreiras, como a capacitação de profissionais e a disponibilidade de equipamentos. Com a evolução e estudos em projetos como o nosso, fomentamos a utilização e investimentos nesse tipo tecnologia para que mais animais tenham a mesma oportunidade do Bili”, afirmam as estudantes do CEUB.

Um marco na formação acadêmica

Além de devolver a mobilidade a Bili, o projeto marcou a trajetória de Arthur Dornfeld, estudante de Engenharia da Computação do CEUB, que ficou responsável pela modelagem de peças até chegar ao modelo ideal. Ele considera a experiência um salto na sua vida acadêmica: “Pude participar da criação de um produto real. Vi como surgem as ideias, como são avaliadas as viabilidades e como se chega a algo que faz diferença”.

“Mais do que um protótipo, o caso de Bili representa um avanço científico no Brasil. É o exemplo de como dedicação, pesquisa interdisciplinar e uso de novas tecnologias podem transformar vidas e abrir caminhos para soluções antes inimagináveis”, arremata o professor Carlos Alberto.

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