** Por Renata Roma
Os animais de estimação estão cada vez mais inseridos na rotina e nas relações afetivas de seus tutores. Há tempos, deixaram de ser apenas companhias para ocupar lugares de destaque como filhos, parceiros e integrantes legítimos das famílias. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil tem hoje a terceira maior população pet do planeta, ultrapassando 150 milhões de animais.
Com o aumento dessa convivência e o avanço de um mercado atento às novas demandas, a oferta de produtos e serviços voltados a pets e tutores cresce constantemente. Eles já são presença comum em espaços públicos como shoppings, restaurantes, parques e hoteis, fazendo companhia em diversas atividades cotidianas. Esse contexto tem fortalecido o conceito de famílias multiespécie, aquelas em que humanos e animais compartilham o mesmo lar e constroem uma relação equilibrada de convivência e afeto.
Por ocuparem um espaço afetivo tão relevante, participando de momentos de lazer, descanso e cuidado, a morte de um pet passou a representar um evento de grande impacto emocional dentro das famílias. Essa experiência tem ganhado novo olhar por parte da sociedade e da psicologia, especialmente nos últimos anos, com o reconhecimento de sua dimensão afetiva e simbólica.
Com a chegada do Dia de Finados, muitas pessoas aproveitam para relembrar seus companheiros e prestar homenagens às histórias que viveram juntos. A psicoterapeuta Renata Roma, especialista em vínculo humano-animal e luto pet, explica que “perder um pet pode ser tão doloroso quanto perder um familiar. Para muitos, esse laço é diário, profundo e repleto de memórias. O problema é que esse tipo de luto, muitas vezes, não é reconhecido socialmente. A pessoa sofre, mas sente que não há espaço legítimo para expressar essa dor.” Ela acrescenta: “O acolhimento é determinante. Estudos apontam que quando existe suporte, especialmente em vínculos muito estreitos, o impacto do luto é atenuado. Já na ausência de apoio, o risco de agravamento aumenta”.
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Roma destaca que criar rituais simbólicos, realizar pequenas cerimônias de despedida, montar álbuns ou diários de lembranças e reconhecer o papel do animal na dinâmica familiar são práticas que ajudam na elaboração da perda. Caso a tristeza se prolongue ou passe a comprometer a rotina, recomenda-se buscar acompanhamento de um profissional com qualificação específica em luto pet. “Atendendo esse público, percebo o quanto a formação especializada faz diferença na forma de acolher o sofrimento”.
Ela também chama atenção para o desafio emocional ainda maior que envolve casos de eutanásia:
“A eutanásia é uma das situações mais dolorosas. É uma decisão difícil, que pode envolver percepções distorcidas de culpa e, por isso, o luto tende a se intensificar. Nessas circunstâncias, o apoio social e profissional é fundamental para que a dor não evolua para algo mais complexo”.
Atento à tendência, o mercado já tem se movimentado para acompanhar tal demanda. Como exemplo, o Grupo Zelo, empresa de serviços funerários, reconhece a importância das famílias multiespécie e oferece acolhimento aos tutores tanto em vida quanto após a partida de seus animais. A empresa disponibiliza planos específicos para pets e também a possibilidade de incluí-los entre os dependentes dos planos familiares.
Entre 2023 e 2024, houve um aumento de 20,8% no número de cremações de pets realizadas pela empresa, evidenciando uma busca crescente por despedidas dignas e humanizadas. Segundo Alessandro Oliveira, diretor do Grupo Zelo, “ainda há pouca discussão sobre essa preparação, mas cresce o número de tutores que procuram opções mais afetuosas e personalizadas para lidar com a perda”. A empresa conta com cemitério, crematório e espaço de velório exclusivos para animais, além de serviços inovadores. “Oferecemos a possibilidade de um velório presencial com familiares e amigos ou de forma online, por meio de um link enviado ao tutor. Entendemos que esse último adeus é legítimo e contribui para o processo de elaboração do luto, assim como ocorre com as despedidas humanas”, completa Alessandro.
Para Roma, “o luto por pets não é apenas uma etapa passageira, mas uma vivência transformadora. Integrar essa perda à própria identidade é parte essencial do processo de adaptação. Isso requer tempo, empatia e acolhimento. Reconhecer a legitimidade desse sofrimento, validar as emoções e criar espaços para sua expressão são atitudes fundamentais para que as famílias multiespécie vivenciem o luto de maneira saudável, consciente e respeitosa”.



