Anti-inflamatório com tecnologia de nanocristais dobra a absorção no organismo e promete alívio mais rápido da dor
Imagine seu cãozinho evitando subir no sofá, caminhando com dificuldade ou reclamando ao se levantar. Esses sinais podem ser confundidos com “idade avançada”, mas muitas vezes revelam algo mais específico: a artrose. A doença, também chamada de osteoartrite, afeta articulações, causa dor crônica e limita os movimentos, comprometendo não só a mobilidade, mas também o bem-estar dos animais, especialmente os idosos.
O problema, além de progressivo, ainda é de difícil manejo. Os tratamentos existentes nem sempre oferecem resposta rápida e, em alguns casos, demandam doses altas e administração frequente, o que dificulta a rotina dos tutores. Mas uma novidade desenvolvida por pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP promete mudar esse cenário: um anti-inflamatório em versão líquida, nanoestruturado, que potencializa a absorção e pode ser mais eficaz no combate à dor.
O medicamento, à base de firocoxibe, princípio ativo já conhecido da medicina veterinária, foi testado com sucesso em cães da raça beagle. Com a nova tecnologia de nanocristais, a concentração da substância no sangue dos animais foi o dobro da obtida com os comprimidos convencionais, o que indica ação mais rápida e duradoura. “A formulação nanoestruturada proporcionou o dobro da concentração no sangue comparada ao medicamento convencional, sugerindo maior eficácia e potencial para oferecer alívio mais rápido da dor”, explicou a professora Nádia Araci Bou-Chacra, em entrevista ao Jornal da USP.
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Além de mais eficiente, a novidade tem outra vantagem, é mais fácil de administrar. “A formulação líquida permite que a dose seja ajustada de acordo com o peso do animal, o que evita a divisão de comprimidos e facilita o uso no dia a dia”, detalha Luiza de Oliveira Macedo, doutoranda responsável pela pesquisa, também ao Jornal da USP. Segundo ela, o desenvolvimento da fórmula partiu justamente de uma demanda do mercado por uma versão líquida do firocoxibe.
O processo de produção dos nanocristais envolveu a moagem de alta energia da substância ativa, que reduziu as partículas a tamanhos médios de 200 nanômetros, contra os 20 a 30 micrômetros dos medicamentos convencionais. “Essa redução melhora a solubilidade e a absorção do fármaco pelo organismo”, complementa Luiza. O pedido de patente já foi depositado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), via Agência USP de Inovação (Auspin).
Antes de chegar aos cães, o novo medicamento foi testado em larvas da espécie Galleria mellonella, um modelo biológico amplamente utilizado em estudos farmacêuticos. Mesmo em doses dez vezes superiores às convencionais, não foram registrados efeitos adversos. Nos testes com cães, os resultados impressionaram, a nova formulação atingiu pico de concentração no sangue em apenas 30 minutos (1.105 ng/mL), enquanto o medicamento tradicional levou uma hora para atingir pouco mais da metade desse valor (580 ng/mL).
Com a expectativa de vida dos animais de estimação em alta, cresce também a necessidade de tratamentos voltados às doenças do envelhecimento. “Hoje, os pets são considerados membros da família, e seu bem-estar é uma prioridade para os tutores”, afirma Nádia.
O setor pet, aliás, está em plena expansão, segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), movimentou R$ 75,4 bilhões em 2024. Só os produtos veterinários, incluindo medicamentos, representaram R$ 7,8 bilhões desse montante.
Apesar dos resultados promissores, o caminho até a chegada do medicamento às prateleiras ainda será longo. “O desafio agora é escalar a produção com segurança e qualidade, seguindo as boas práticas de fabricação e os controles exigidos”, explica Luiza. Até lá, o projeto segue em desenvolvimento e reforça um compromisso importante da ciência, cuidar melhor dos nossos melhores amigos, principalmente na fase em que mais precisam de acolhimento.