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Rio tem hoje mais de 120 cães de suporte emocional certificados

Animais circulam por todos os espaços com tutores e ajudam no tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e pânico

 

 

“Ele é o meu equilíbrio”. “Ele mudou a minha vida”. As frases foram ditas por Simone Roselin, de 50 anos, e Nazaré Pereira dos Santos, de 34, respectivamente, para se referirem aos seus cães: o labrador Bolt e o golden retriever Paçoca. Os dois fazem parte de um grupo de 126 cachorros certificados desde 2022 pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio, por meio da subsecretaria de Bem-Estar Animal, como sendo de suporte emocional. No próximo dia 15, a lei que assegura às pessoas com transtornos de saúde mental serem acompanhadas pelos animais em todos os momentos — o que tem resultados terapêuticos comprovados — completa três anos de publicação.

Segundo a lei 9.317, da ex-deputada estadual e atual prefeita de Guapimirim Marina Rocha, o cão de suporte emocional pode entrar e permanecer com seu tutor em todos os locais públicos e privados de uso coletivo, em qualquer meio de transporte e em estabelecimentos comerciais em todo o Rio — a única restrição são espaços em que seja obrigatória a esterilização individual. Mas é necessária uma indicação de um psicólogo ou psiquiatra ao paciente para que o animal seja cadastrado.

 

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“O Bolt veio numa fase muito conturbada, em 2016. Na época, nem tinha a lei ainda. Depois veio a lei e a psicóloga me deu um atestado. Aí corri atrás para cadastrá-lo. Ele é meu equilíbrio” disse Simone, que faz tratamento contra depressão e ansiedade.

Cães de suporte emocional

O labrador anda com a tutora no metrô, em táxis, em carros de aplicativo e a acompanha nas tarefas do dia a dia.

“O maior problema que já tive foi num supermercado que não frequento regularmente. Mas aí informei sobre a lei e mostrei a documentação. E faço de tudo para que a lei seja cada vez mais conhecida porque ela é necessária demais” contou ela, que tem uma pet shop virtual e trabalha em home office como consultora.

Em casos de descumprimento da lei, o tutor pode acionar a polícia e fazer um registro de ocorrência na delegacia.

Relação de confiança

Já Paçoca costuma acompanhar a personal trainer Nazaré no trabalho presencial. “Nos dias em que necessito muito, já levei ele comigo”, disse.

Nazaré foi diagnosticada com transtorno de ansiedade e é tutora do golden retriever desde dezembro do ano passado:

“O Paçoca mudou a minha vida. Ele é muito especial. Temos uma relação de confiança. Tive uma melhora no meu quadro muito grande desde que ele entrou na minha vida”.

Segundo ela, o cachorro passou por um treinamento especial para perceber quando a tutora entra em crise. E também para saber que, nos momentos em que coloca o colete que o destaca como sendo um cão de apoio emocional, não deve interagir com outros animais e com pessoas.

“Quando ele coloca o colete, fica com os olhos sobre mim o tempo todo”, contou.

Pioneiro

Um dos primeiros cães a receber o certificado da Secretaria de Estado de Saúde foi o golden retriever Rudá, da bióloga e bacharel em Direito Danielle Cristo. Ela é a responsável por emitir os Certificados de Cães de Suporte Emocional na pasta e não é raro ver o cachorro “dando expediente” por lá.

“Ele vai a quase todos os lugares comigo. Mas vejo antes se vai ser bom para ele ou não”, disse.

Antes de Rudá, Danielle teve outro cão de apoio emocional: Prince. Após a morte da mãe, em 2010, a bióloga e bacharel em Direito desenvolveu um transtorno de ansiedade que passou a ser tratado com terapia. Logo depois, o cachorro entrou em sua via. A história foi uma inspiração para que a lei começasse a ser redigida e ficasse conhecida como Lei Prince.

Danielle frisou que é importante diferenciar a ansiedade de separação que alguns tutores sofrem — quando saem para trabalhar, por exemplo — dos casos com indicação médica:

“Ter pena de deixar o cachorro sozinho em casa é uma coisa. Outra coisa são os casos de depressão e transtorno de ansiedade, quando o cão ajuda no trato com outras pessoas”.

‘Amor incondicional’

O psiquiatra Ricardo Krause, especialista em Psiquiatria da infância e da Adolescência e presidente nacional da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins (Abenepi), esclareceu que animais em geral podem ser ser de suporte emocional mas que cães realmente são mais conhecidos. Ele, que foi um dos primeiros a dar autorização para que esses bichos fizessem viagens de avião nacionais e internacionais junto a seus tutores, afirmou que os transtornos — como depressão, ansiedade e pânico — são uma condição de instabilidade. Os animais de suporte emocional promovem uma sensação de previsibilidade.

“Fica estabelecida uma relação muito empática. Uma relação de amor incondicional”, disse.

Segundo Krause, um estudo feito na Inglaterra indicou que estar na companhia de um animal assegurou que muitas pessoas com transtornos não tivessem agravamento em seus quadros durante a pandemia de Covid-19, por exemplo. “Ao tomar conta de alguém, a pessoa fica com menos medo. Ela se preocupa com o outro”.

O psiquiatra afirmou também que um animal de suporte não deve oferecer riscos a outras pessoas e destacou que ele é diferente de animais de serviço — que fazem coisas que os tutores não fazem, como os cães-guia usados por cegos.

O que é necessário para cadastrar um cão

Cães de suporte emocional podem ser de qualquer raça — exceto as mais ferozes, como pitbull, fila, doberman e rotweiller — e de diferentes portes. Mas, para que o cadastramento seja realizado, alguns requisitos devem ser cumpridos.

A documentação dos tutores e dos animais deve ser enviada para o e-mail suporteemocional.rjpet@saude.rj.gov.br. As informações devem estar em PDF. Os tutores têm que fornecer carteira de identidade, CPF, laudo médico especificando a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) — que deve ser atualizado a cada seis meses —, comprovante de residência, dois telefones e e-mail.

São necessários foto atual do cachorro, carteira de vacinação (múltipla e antirrábica) atualizada, foto do colete na cor vermelha com a identificação de cão de suporte emocional, certificado de adestramento assinado por uma escola ou profissional autônomo — nesse caso, com CPF e carteira de identidade dele — e número do microchip, caso o animal possua.

A certificação — em formato de crachá — tem foto do cachorro, espaço para a colocação do número do microchip, nome do tutor e CPF e telefones de contato. Caso não haja pendências no pedido, o documento é liberado, em média, em 30 dias.
Fonte: Extra

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