Especialista do CEUB explica que o canto das cigarras é um chamado de amor, e não um presságio de chuva
Você sabia que o som das cigarras pode chegar a 120 decibéis — o mesmo volume de uma britadeira ou de um show de rock? Apesar da crença popular de que o canto das cigarras anuncia a chegada da chuva, a ciência mostra que o motivo é bem diferente, e muito mais interessante!
O professor de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Fabrício Escarlate, explica que o famoso coro das cigarras não é uma resposta direta às mudanças do clima, e sim parte de um complexo processo fisiológico e reprodutivo.
O som da maturidade
De acordo com Escarlate, quando o ambiente começa a sinalizar a estação chuvosa — com aumento de temperatura, umidade e luz — o sistema nervoso das cigarras interpreta essas mudanças e ativa hormônios responsáveis pela transição da fase jovem (ninfa) para a fase adulta.
“Essas alterações hormonais, conhecidas como hormônio da muda e hormônio juvenil, regulam a transformação das cigarras. Ou seja, elas não ‘preveem’ a chuva, mas reagem a mudanças ambientais que indicam o momento certo para amadurecer”, explica o professor.
Amor em alto volume
Mas por que o som é tão alto? O segredo está nos órgãos cimbálicos — pequenas estruturas localizadas no abdômen dos machos, que vibram rapidamente para produzir o canto.
O objetivo é simples: atrair as fêmeas. Quanto mais intenso e persistente o som, maiores as chances de conquistar uma parceira.
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E o volume é impressionante: os cantos podem ultrapassar os 120 decibéis, tornando-se um verdadeiro “show da natureza” que ecoa por matas, parques e quintais.
Um ciclo de vida subterrâneo
Depois do espetáculo sonoro, as cigarras encerram seu breve período adulto, que dura cerca de um mês. As fêmeas depositam os ovos em troncos de árvores e, logo depois, morrem.
Desses ovos surgem as ninfas, que caem no solo e passam anos escondidas debaixo da terra, sugando a seiva das raízes. Esse período pode variar de 1 a 17 anos, dependendo da espécie. Quando estão prontas, as ninfas sobem à superfície, rompem o exoesqueleto e dão início a um novo ciclo de vida.
Diversidade e curiosidades
Existem mais de 1.500 espécies de cigarras no mundo — algumas coloridas, outras com cantos únicos. Entre elas estão a curiosa “cigarra-chorona”, conhecida pelo som melancólico, e a que faz barulho semelhante a uma serra elétrica.
Há também a cigarra pare-e-siga, que exibe cores verde e vermelha, como um semáforo. E em algumas regiões da Amazônia e do sul dos Estados Unidos, certas espécies chegam a construir “chaminés” de terra e areia sobre o solo, uma verdadeira obra de engenharia natural.
O verdadeiro significado do canto
O canto das cigarras, portanto, não é um “aviso de chuva”, mas um ritual de acasalamento e um símbolo da adaptação e sobrevivência desses insetos fascinantes.
“Da próxima vez em que ouvir o coro das cigarras, lembre-se: é mais do que uma melodia. É a expressão da vida em seu ciclo mais puro, ecoando na natureza”, conclui Fabrício Escarlate.