Mercado Pet brasileiro cresce 145% em 15 anos, aponta pesquisa da USP

Estudo inédito revela transformação no comportamento de consumo: famílias brasileiras gastam cada vez mais com pets, enquanto exportações de ração crescem 60%

 

O mercado pet brasileiro passou por uma transformação radical nas últimas duas décadas. Entre 2002 e 2018, o número de famílias que declararam despesas com animais de estimação quase triplicou, saltando de 11,72% para 30,27%. No mesmo período, o gasto médio mensal com pets aumentou 145%, passando de R$ 8,32 para R$ 20,42, segundo pesquisa de doutorado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).

O estudo, conduzido pela pesquisadora Clécia Satel sob orientação do professor Rodolfo Hoffmann, analisou dados das Pesquisas de Orçamento Familiares (POF) de três períodos diferentes e revelou um fenômeno que vai além dos números: o Brasil está vivendo uma verdadeira revolução cultural na relação com os pets.

Pets substituem filhos nas famílias brasileiras

Os dados são expressivos: enquanto o tamanho médio das famílias caiu de 3,62 pessoas em 2003 para 2,8 em 2022, a razão de pets por domicílio cresceu para 2,3 animais. Segundo levantamento do Instituto Quaest em 2024, o Brasil já é o terceiro país mais populoso em número de animais de estimação no mundo.

“Antigamente, os gastos eram praticamente com ração e medicamentos. Agora temos variedades de serviços e itens, desde roupas até petiscos que alimentam grandes indústrias”, explica Clécia Satel.

Novos serviços impulsionam o mercado

A pesquisa organizou as despesas em quatro categorias principais: saúde (com destaque para planos de saúde), higiene, alimentação (incluindo petiscos premium) e outros serviços (adestramento, hospedagem, certificado de raça e compra de animais).

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Um dado chama atenção: na POF de 2008-2009, gastos com plano de saúde para pets eram praticamente inexistentes. Já em 2017-2018, essa despesa aparece de forma substancial. “Para um animal frequentar uma creche, o gasto mínimo do tutor é R$ 800 por mês”, revela a pesquisadora.

Serviços que antes pareciam impensáveis agora fazem parte do dia a dia do setor: massagem muscular, banhos de creme, tonalizantes, alongamento de unhas e até mesmo vestuário especializado para cães movimentam um nicho cada vez mais lucrativo.

Perfil do consumidor: renda e escolaridade fazem diferença

O estudo identificou padrões claros de consumo. Famílias com menos integrantes e maior renda tendem a possuir mais animais e gastar mais com cuidados especializados. O impacto da escolaridade é significativo: quando o chefe da família possui título de mestre, o gasto médio com pets chegou a R$ 88,41 em 2018.

As regiões Sul, Centro-Oeste e o estado de São Paulo lideram os gastos, reflexo tanto da maior renda per capita quanto do menor número de pessoas por domicílio em comparação com Norte e Nordeste.

A metodologia de razões de concentração revela forte desigualdade nas despesas consideradas não essenciais. Em 2017-2018, serviços como hospedagem (0,982), adestramento (0,935) e plano de saúde (0,896) concentram-se quase exclusivamente entre famílias de maior poder aquisitivo. Já despesas básicas, como ração para aves, aparecem mais em lares de menor renda.

Exportações em alta

O mercado externo também reflete esse crescimento. As exportações de ração para pets cresceram quase 60% entre 2020 e 2024, consolidando-se como parte importante do agronegócio brasileiro.

“Entender como e por que as famílias gastam com animais de estimação ajuda a orientar políticas públicas, negócios e até estratégias de exportação”, afirma Clécia Satel.

Fenômeno do “pet parenting”

A pesquisadora identificou que, principalmente nas regiões mais ricas, está ocorrendo o fenômeno conhecido como “pet parenting” – quando os animais são tratados como verdadeiros membros da família, similares a filhos humanos.

“Muitos casais estão optando por não ter filhos ou deixando para o futuro, e encontram num animal de estimação uma companhia que não exige tamanho compromisso”, observa.

Essa mudança cultural se reflete no ambiente corporativo. “Empresas estão começando a oferecer aos funcionários o direito de acrescentar o animal de estimação no plano de saúde. Companhias aéreas já lutam para embarcar o animal na cabine”, complementa a pesquisadora.

Perspectivas para o setor

O estudo aponta que as mudanças se acentuaram ainda mais desde 2018. A próxima POF, prevista para 2026, deve trazer novos insights sobre a evolução do mercado. “Durante a pandemia, aumentou muito o número de pessoas com animais de estimação, então a divulgação desses dados vai revelar uma diferença muito grande”, projeta Clécia.

Atualmente tramita no Senado um projeto para instituir o Dia dos Pais e Mães de Pet, data que seria celebrada em 4 de outubro – dia de São Francisco de Assis, santo protetor dos animais.

A expansão de ambientes pet friendly pelo país – shoppings, cafés, sorveterias e bares que recebem cães e gatos e oferecem produtos específicos para eles – consolida uma tendência sem volta: os pets não são mais apenas animais de estimação, mas parte fundamental da família e da economia brasileira.

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