*Por Prof. Francis Flosi
A recente Resolução CFMV nº 1.653/2025, publicada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), pode parecer, à primeira vista, uma simples atualização terminológica. No entanto, ao substituir os termos “tutor” ou “proprietário” por “responsável pelo animal”, o CFMV propõe uma mudança de paradigma na forma como os brasileiros compreendem sua relação com os pets.
Essa nova nomenclatura, que agora deve constar em prontuários, carteiras de vacinação e outros documentos veterinários, vai muito além da padronização técnica. Ela reafirma a responsabilidade ética, legal e afetiva de quem escolhe conviver com um animal.
Em um país onde os lares com pets já superam o número de lares com crianças, a expressão “responsável pelo animal” traduz de maneira mais fiel o compromisso que cada pessoa assume ao acolher uma vida sob seus cuidados. Não se trata apenas de posse ou afeto, mas de dever.
Um avanço ético e social
Ao reconhecermos os animais como seres sencientes — capazes de sentir e sofrer —, o termo “responsável” ganha ainda mais força. Ele implica compromisso com o bem-estar físico e emocional do animal, respeito às orientações veterinárias e disposição para garantir uma vida digna e saudável.
Essa mudança é também um reflexo de um amadurecimento ético coletivo, em que o vínculo entre humanos e animais é pautado por empatia e consciência, não por dominação ou posse.
Padronização que gera clareza
Do ponto de vista técnico, a resolução traz uniformidade à linguagem médica-veterinária em todo o país. Ao adotar uma terminologia única, o CFMV busca garantir mais clareza e consistência nos registros clínicos e jurídicos.
Essa padronização é essencial não apenas para a prática veterinária, mas também para fortalecer a segurança legal e a transparência na relação entre profissionais, responsáveis e instituições.
O papel educativo do médico-veterinário
A mudança também reforça o papel do médico-veterinário como agente de educação e transformação social. Cabe a nós, profissionais da área, orientar a população sobre o que significa, na prática, ser “responsável” por um animal — desde a nutrição adequada até o acompanhamento preventivo e o respeito às necessidades comportamentais e emocionais de cada espécie.
Mais do que tutores, somos guardiões de vidas
A resolução do CFMV não apenas redefine palavras, mas convida a sociedade a redefinir atitudes. Ao substituir “tutor” por “responsável pelo animal”, o Conselho convida todos nós a reconhecermos que convivemos com vidas que confiam em nós — e que exigem cuidado, atenção e respeito.
Em suma, essa mudança linguística simboliza um grande avanço na consciência coletiva sobre a relação humano-animal. De agora em diante, ser responsável por um pet não é apenas um título — é um compromisso ético com a vida.
*Prof. Francis Flosi é médico-veterinário e diretor da Faculdade Qualittas, instituição com mais de duas décadas de atuação no ensino veterinário e referência nacional na formação de profissionais comprometidos com a saúde e o bem-estar animal