A data é uma vitória em Comemoração ao Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual
Os olhos de sentinela e, ao mesmo tempo dóceis, se destacam na pelagem preta e brilhante. As orelhas se erguem ao perceber barulhos estranhos, o focinho se alinha, e Thunder se move com confiança e destreza para guiar seu tutor, o servidor público Denivane Alves da Silva, morador de Botucatu (SP). Thunder é um cão-guia labrador de 2 anos de idade, que cumpriu com louvor as etapas do treinamento que tornam um simples cachorro, que poderia ser um pet brincalhão, em um líder da caminhada, esclarece Gustavo Ferraz, instrutor de cão-guia e coordenador técnico do Instituto Adimax, localizado em Salto de Pirapora, região metropolitana de Sorocaba (SP). “Para um cão-guia não basta saber onde está indo. É um cão que precisa tomar decisões. Por exemplo, se o sinal estiver fechado e a pessoa com deficiência quiser atravessar, ele vai parar e não irá obedecer ao comando, pois entende que aquilo é perigoso”, diz.
Thunder acabou de chegar na vida do seu tutor, mas já a mudou completamente, relata Denivane: “Eu sempre fui independente, mas Thunder me dá uma segurança e autonomia que eu nunca imaginei. Com ele minha rotina ficou mais fácil, consigo me deslocar melhor pela cidade”.
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Thunder faz parte desse pequeno exército de cães-guias que tem como missão ser os olhos de pessoas com deficiência visual. São menos de duzentos no Brasil, mas o labrador em questão representa um marco histórico nessa luta de apoio e inclusão: Thunder é o 100º cão a ser entregue pelo Instituto Adimax, o maior centro de treinamento de cães-guias da América Latina, uma referência no segmento: “Chegar ao 100º cão em tão pouco tempo, pois temos apenas 6 anos como Instituto, e na semana em que comemoramos o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, é, além de muito gratificante, um entendimento de que estamos no caminho certo”, enfatiza Thiago Pereira, gerente geral da instituição.
Desde a fundação, em 2018, o Instituto foi aumentando gradualmente a taxa de aproveitamento dos cães que são encaminhados para o treinamento. Um trabalho que envolve uma cadeia de dezenas de pessoas, desde o nascimento até a chegada ao tutor. A expertise desenvolvida nesses anos é uma mola de resistência nesse universo de dificuldades que vai além da visão, pois também passa pelo preconceito e falta de acessibilidade às pessoas com essa condição. “A deficiência visual não nos define, somos muito mais que ela. E ter a possibilidade de ir e vir, com a ajuda do cão-guia, nos tira desse lugar de dependência, de vulnerabilidade. E isso também faz com que os outros nos vejam de uma outra perspectiva”, conclui Denivane.
Aproximadamente 528 mil pessoas no Brasil são completamente cegas, segundo o IBGE. Muitas delas estariam aptas para ter um cão-guia, mas a demanda é muito maior que o número de organizações que realizam o treinamento desses cães. Para Thiago Pereira, o trabalho do Instituto Adimax é importante nessa jornada de inclusão e combate à discriminação, mas o envolvimento de toda sociedade é fundamental:
“Esse marco dos 100 cães é uma vitória, mas com certeza não chegamos sozinhos aqui. O papel de famílias voluntárias que participam do processo de socialização desses cães antes de ingressarem no treinamento, de empresas privadas apoiadoras, de divulgadores do programa, e de todos aqueles que de alguma forma contribuíram para melhorar a vida das pessoas com deficiência visual, foram parte desse resultado”.