Luto pet: por que é importante acolher a dor da perda de um animal de estimação

Psicóloga brasileira conquista certificação internacional e chama atenção para a necessidade de apoio emocional a tutores e profissionais do setor PetVet

 

Com o aumento do número de pets nos lares brasileiros –  já são cerca de 150 milhões, segundo IBGE e Abinpet – cresce também o vínculo afetivo entre humanos e animais de estimação. E, com ele, a dor da perda. Diante desse cenário, a psicóloga Juliana Sato se especializou em luto pet e vem ganhando destaque por oferecer suporte psicológico a tutores e profissionais da área veterinária que enfrentam essa dor invisível.

Graduada em Psicologia e com mais de 18 anos de atuação em saúde mental, Juliana percebeu, ao longo dos atendimentos, uma lacuna importante: “Meus pacientes não encontravam apoio para lidar com o luto animal. Era um sofrimento negligenciado, como se não fosse legítimo”, conta.

Desde 2023, ela passou a se dedicar ao tema e se tornou uma das poucas profissionais brasileiras com certificação internacional da Association for Pet Loss and Bereavement, entidade referência nos Estados Unidos. Para aprofundar sua atuação no universo veterinário, atualmente cursa mestrado na Unifesp sobre o luto de médicos veterinários em atendimentos de desastres.

Uma dor real, mas ainda invisível

Apesar de cada vez mais presente na vida das pessoas, a morte de um pet ainda não é reconhecida socialmente com o mesmo peso de outros tipos de luto. “Os animais ocupam lugares muito importantes. Há casais que optam por ter pets em vez de filhos, pessoas com deficiência que contam com cães de apoio, além dos profissionais que desenvolvem laços com os animais que tratam. A perda, nessas situações, é profunda e exige acolhimento”, afirma a psicóloga.

 

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A psicoterapia voltada ao luto pet envolve escuta qualificada, técnicas de mindfulness e meditação. O objetivo é ajudar o tutor a atravessar esse momento delicado com mais equilíbrio emocional, sem culpa ou negação.

Dor e recomeço: a história de Caramelo e Belinha

A Josy Souza sabe bem o que é esse tipo de dor. Em suas redes sociais, compartilhou a história de Caramelo, sua companheira por quase 17 anos. “Ela ficou prenha depois que um cachorro invadiu a nossa casa. Teve dois filhotes que não resistiram ao nascimento por cesárea. Depois de anos, ainda enfrentou a leishmaniose. Fizemos todo o tratamento, mas infelizmente ela não resistiu.”

A despedida de Caramelo foi marcada por saudade, mas também por gratidão. “Até hoje vejo as fotos e me emociono. Ela fez parte da minha vida de um jeito único.” Hoje, Josy divide os dias com Belinha, uma cadelinha de 4 anos e meio. “Ela é meu grande amor. Mas não substitui a Caramelo. Cada uma tem seu espaço.”

Casos como o de Josy ilustram como o luto pet é real e profundo, e como é possível também viver um recomeço sem apagar o que foi vivido.

Profissionais da área também sofrem

Além dos tutores, Juliana chama atenção para os impactos emocionais vividos por quem trabalha com cuidado animal. Veterinários, atendentes, cuidadores e profissionais de clínicas e pet shops também estão sujeitos ao sofrimento — especialmente diante de decisões difíceis, como a eutanásia ou tratamentos terminais.

Para abordar essas questões, ela e a veterinária Louisanne Sanchez devem lançar em breve o livro “Luto no Contexto da Medicina Veterinária”, que discute temas como cuidados paliativos, impactos emocionais, saúde mental e até o risco de suicídio entre profissionais da área.

Juliana também integra a diretoria da Ekôa Vet (Associação Brasileira em Prol da Saúde Mental na Medicina Veterinária) e atua como head de Saúde Mental da plataforma Trabalhe Pra Cachorro (TPC), voltada à capacitação do setor PetVet.

“É fundamental que empresas da área entendam o peso emocional que seus colaboradores carregam. Cuidar da saúde mental dessas pessoas é também cuidar da qualidade dos serviços oferecidos”, reforça.

Onde buscar ajuda

Juliana atende pacientes individualmente e também oferece mentorias e consultorias para empresas e líderes do segmento pet. Além disso, criou o canal VibeZenCast, onde compartilha conteúdos sobre saúde mental, autocuidado e bem-estar.

A importância de acolher para seguir em frente

Lidar com o luto pet é reconhecer que o amor pelos animais é real, profundo e legítimo. Assim como a dor da perda. Validar esse sentimento é o primeiro passo para acolher quem sofre e construir uma relação mais humana com os cuidados animais, seja como tutor, profissional ou empresa do setor.

“Falar sobre isso não é exagero. É saúde mental, é respeito, é amor”, resume Juliana Sato.
E, como mostra a história de Josy, a dor pode deixar cicatrizes, mas também abre espaço para novos começos — com leveza, memória e carinho.

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